O
que já não serve para ser comprado ainda é aproveitado por quem não
desperdiça alimento. Em dias difíceis, a aposentada Maria de Lourdes
Ferreira, de 76 anos, encontra na Empresa Paraibana de Abastecimento e
Serviços Agrícolas (Empasa) de Campina Grande o tipo de comida que não
pode comprar para sua família.
O
desperdício gerado lá e em feiras livres da cidade acaba sendo a fonte
de nutrição de muitas famílias, assim como de pessoas que são recebidas
por entidades filantrópicas e abrigos.
Com
sacolas nas mãos e um olhar observador, a aposentada visita a Empasa
quase todos os dias, coletando frutas e algumas verduras, que logo
passam a ser componentes da mesa de sua família.
“São
seis pessoas em minha casa, a maioria crianças e, infelizmente, a minha
aposentadoria não dá para comprar tudo o que a gente precisa. Então eu
venho aqui para pegar o que não posso comprar. Existe muita comida sendo
jogada e basta dar uma 'lavadinha' que tudo fica novo”, disse,
sorrindo.
A
moradora do Centenário não é a única que frequenta o local, e ela
contou que são inúmeras as famílias que recolhem alimentos que seriam
desperdiçados.
Outro
personagem conhecido pelos comerciantes da empresa é José da Silva, 50
anos, que mora próximo ao local e que há muitos anos recolhe os
alimentos.
“Existe
muita coisa boa, mas se tiver um defeito, o pessoal não compra. Então
os comerciantes acabam jogando fora e é aí que eu entro, recolhendo o
que posso. Além da minha família, também acabo distribuindo entre alguns
vizinhos”, contou o catador de material reciclável.
MESA BRASIL
A
grande coleta fica por conta de um programa intitulado “Mesa Brasil”,
realizado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc) que recolhe, em média,
duas toneladas de alimentos por dia, somente na Empasa.
O
projeto é o único da cidade que recolhe os alimentos que já não servem
mais para a comercialização e são distribuídos entre entidades e abrigos
de Campina Grande.
Conforme
a nutricionista do programa Neyla Menezes, 14 pessoas estão envolvidas
com o processo de recolhimento, pré-seleção e distribuição dos
alimentos, destinados a 103 entidades que hoje recebem os produtos
frescos.
De
acordo com ela, a coleta é feita na Empasa e mais três supermercados da
cidade, em parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Conforme
o gerente de mercado da Empasa, Marinaldo Elias, o projeto “Sopão”,
realizado pela empresa há vários anos, foi suspenso em 2012 em Campina
Grande, mas ele não soube explicar o motivo.
No
local, que possui 200 comerciantes de hortaliças e frutas, não existe
mais projeto próprio para o aproveitamento dos alimentos dispensados na
comercialização e não há estimativa do número de comida jogada fora,
contudo são cerca de quatro toneladas de resíduos sólidos retirados do
local, diariamente.
Na Feira Central
Na
Feira Central de Campina Grande, onde segundo o administrador Aguinaldo
Batista estão cadastrados até 4.500 comerciantes, é incalculável o
desperdício de alimentos, mas também ainda não existe nenhum projeto
relacionado às estimativas dessas perdas.
Lá, os catadores também aproveitam para recolher materiais recicláveis, que acabam sendo o seu meio de vida.
Conforme
o secretário de Planejamento do Município, Márcio Caniello, dentro do
projeto de revitalização da feira existe a expectativa de criação de um
empreendimento ambientalmente sustentável, com a gestão de resíduos, com
várias alternativas de coleta e processamento do lixo. “Podemos estudar
a possibilidade de criar alternativas também para dar finalidade ao
alimento que acaba sendo desperdiçado no local”, informou.
* Reprodução Márcio Melo via Folha do sertao com Jornal da Paraíba